Texto de Melissa Schaikoski - escritora e advogada
De todas as dádivas que a natureza pode oferecer à espécie humana, a condição de ser “pai” talvez seja a mais sublime delas. Num primeiro momento, somos os filhos, arremessados neste mundo por uma força invisível, transformados em carne, osso e sentimento graças a uma figuração cósmica e biológica de desejo. Nascemos pequenos e vulneráveis, e contamos com mãos alheias para nos alimentar, cuidar e ensinar. Felizes são os pais que sabem de sua importância na existência e criação de um filho. Mais felizes são os filhos que têm esta sorte.
Os pais são nossos primeiros heróis. Confiamos em sua invencibilidade, eternidade e sabedoria, que acreditamos absoluta e inquestionável. Com os anos, percebemos que eles são menos incontestáveis e infalíveis do que pensávamos. Geralmente concluímos que são apenas frágeis seres humanos, sujeitos a todos os erros e acertos de que qualquer indivíduo é capaz.
Às vezes só conseguimos compreender verdadeiramente nosso pai depois de nos tornarmos um. O momento que seguramos um filho recém-nascido junto ao peito revela os mais estranhos sentimentos, dos quais medo e amor são os primários. Medo, pois a partir daquele instante toda uma perspectiva nova se abre, com responsabilidades e anseios que desconhecíamos. Amor, pois o coração torna-se embalagem pequena para conter toda a glória de saber-se criatura e criador.
A partir de então, trilharemos a paternidade cometendo nossos próprios erros e acertos, nos tornando imprescindíveis ou dispensáveis, presentes ou ausentes, mas bem ou mal, sempre influentes no destino dos filhos que concebemos.