Entre nome de rua e escola, referências na região, Padre Natal Pigato foi um homem de grande fé, imigrante europeu, que contribuiu com o desenvolvimento do Paraná. Ele pertencia à Congregação dos Missionários de São Carlos, conhecidos também como carlistas ou escalabrinianos, ordem religiosa fundada pelo Beato João Batista Scalabrini e que tem como patrono São Carlos Borromeu, e a congregação tinha como lema "Eu era estrangeiro e me acolhestes" (Mt 25:35).
Nascido em 24 de dezembro de 1861, na região de Mason Vicentino, Província de Vicenza, na Itália, manifestou a vontade pelo sacerdócio, mas foi coibido pela família. Ele porém não desanimou, manteve-se sempre em oração, além de cantar e conservar-se puro, não perdendo a serenidade.
Renunciou a vocação para a vida religiosa para casar-se com Felicidade Mottin, em 1885, pressionado pela família, em especial pela mãe. Da união dos dois nasceu uma menina, a qual chamam de Marina, mas que veio a falecer com poucos dias de vida. Um mês depois, Felicidade faleceu também.
Após muitas orações, decidiu ser padre para dedicar-se a serviço de Deus, em qualquer ofício. Aos 26 anos de idade ingressou no Seminário de Oné de Fonte, em Treviso, seminário de vocações adultas. Transferiu-se para o Seminário dos Missionários de São Carlos logo depois.
Chegada no Brasil
Em 15 de novembro de 1896 embarcou para o Brasil. A bordo, tornou-se ele um missionário zeloso, como escreveu o Monsenhor Scalabrini. Em 14 de dezembro, chegou ao Orfanato Cristóvão Colombo, em São Paulo, onde encontrou as irmãs e os órfãos, em grande silêncio, rezando junto à imagem de Nossa Senhora da Pompéia, pedindo saúde ao Padre José Marchetti, que foi ungido por Natal Pigato e faleceu no mesmo dia, aos 27 anos, vítima do tifo.
Padre Natal, recém chegado ao Brasil, sem conhecimento de ninguém, da língua e costumes, pediu ao Bispo de São Paulo que o demitisse do cargo, escrevendo o mesmo ao Monsenhor João Batista Scalabrini. O Padre José Molinari, Superior do Seminário de Piacenza, recomendou ao Padre Natal Pigato que fosse direto a Santa Felicidade, em Curitiba, o que o fez, chegando a 12 de março, sendo acolhido com alegria pelo Padre Francisco Brescianini, seu colega de seminário. De Santa Felicidade, deslocava-se em visitas às colônias italianas, indo até Prudentópolis, Imbituva, Colônia São Carlos na Lapa, percorrendo mais de 30 localidades.
Padre Natal era amigo dos jovens. Queria-os puros. Preparava-os para a primeira comunhão com três dias de retiro espiritual. Era alegre e expansivo. Bem cedo passava na frente das casas, cantarolando e convidando as pessoas em tom jocoso para irem à igreja.
Era um homem penitente, austero, cumpridor exato dos deveres. Ao raiar do dia, estava na igreja, ou nas capelas para atender aos fiéis. Chovesse ou não o dever estava acima de tudo. É descrito no livro de registro da Igreja Rondinha "como um homem mortificado, que dormia no chão das sacristias e que madrugava para varar a estrada". Na Estrada Velha de Campo Largo, atualmente denominada Estrada Mato Grosso, ouvia-se o Padre assobiando as ladainhas.
A residência fixa de Pigato durante muito tempo era a Paróquia de São José em Santa Felicidade. Os deslocamentos do Padre eram feitos a pé entre as Igrejas e Capelas de sua atribuição. Outros afirmam que eram feitos a cavalo, meio de transporte comum da época. Augusto Vanin, conforme conta Fernandes, diz: "Ele circulava de aranha - uma espécie de charrete da época". Vanin era morador de uma casa localizada na Rua Padre Alcides Zanella, na Rondinha, construída em 1906. Nesta casa, Pigato fazia sua segunda morada. A Família de Vanin, segundo Fernandes, guarda em seus álbuns de família lembranças do saudoso Padre Natal Pigato.
História da estiagem
Em 1915, em razão de uma forte estiagem que assolava a região de Campo Largo, Padre Natal Pigato organizou uma grande procissão saindo da Rondinha e do Timbotuva. Quando chegaram a um campo chamado de Braghetto, cerca de 600 metros da Colônia Rebouças, “caiu um pé d’água que lava a alma até de quem conhece o fato só de ouvir falar”. Neste local, foi erguida uma cruz e décadas depois foi construída uma capela em homenagem à Nossa Senhora Medianeira.
Este fato lhe rendeu fama de milagreiro e, entre os mais antigos moradores de Campo Largo, quando viam um temporal chegando, faziam orações pedindo a interseção de Padre Natal Pigato a Deus.
Em 11 de setembro de 1926, faleceu Padre Natal Pigato, às 19 horas, na casa paroquial de Rondinha, depois de três dias de enfermidade, mesmo com os esforços médicos para salvá-lo. Sentiu-se mal em 08 de setembro, na festa do Figueiredo. Antes de morrer fez ainda um enterro em Ferraria, profetizando: “Antonio, hoje é você, amanhã serei eu”.
No dia seguinte a morte, 12 de setembro, com um cortejo jamais visto, os fiéis das colônias italianas, os poloneses, os brasileiros de Campo Largo e adjacências, levaram o corpo do Padre Natal Pigato até o Campo Comprido, um trajeto de cerca de 20 quilômetros onde foi velado, durante a noite. No dia 13, novamente, uma multidão de povo seguiu a pé até Santa Felicidade, onde Padre Natal manifestou o desejo de ser sepultado.