Que bom seria se todas as pessoas ao nosso redor tivessem a alegria da Dona Maria. Aquele sorriso e bom humor que contagia, que muda o dia e nos faz pensar que temos milhões de motivos para sorrir, apesar de muitas vezes situações negativas ganharem força e se sobressaírem a tudo que temos e deveríamos agradecer.
Há uma incessante busca da felicidade, a qual as pessoas imaginam que chegará quando realizar ou conquistar algo, sem perceber que ela está pelo caminho dessa jornada, nas pequenas coisas. Dificuldades e problemas todos têm, mas a forma de encarar a vida faz toda a diferença para conseguir superar. E é desta forma que pensa Maria Ivone de Castro, a conhecida Dona Maria, funcionária da JSA Panfletagem e que diariamente trabalha com a entrega de panfletos nos sinaleiros de Campo Largo.
Como um agradecimento a essa sensação boa que ela deixa nos campo-larguenses, a Folha a convidou para essa entrevista, mas também com um cuidado especial, para valorizar e reconhecer o trabalho por ela prestado. A convidamos, em parceria com o Salão Fênix, para ter um momento de cuidados pessoais, o que toda mulher gosta. Ela fez as unhas, escovou o cabelo e foi maquiada pelas profissionais do salão. Depois, participou de uma sessão de fotos no Fotolip.
Em uma conversa com ela na Redação da Folha foi possível perceber que a dona Maria vai muito além dessa personagem que vários cidadãos encontram todos os dias pelas ruas da cidade. Nascida em Minas Gerais, no dia 09 de maio, a mineira irá comemorar seus 62 anos de idade na próxima quarta-feira.
Ela tem duas filhas que moram em Campo Largo - a Silvana e a Livani - e o Silvanei que mora no interior de São Paulo. Quem a vê, não imagina, mas Dona Maria já é até mesmo bisavó e adora já ter 12 netos e um bisneto, e acredita que sendo nova pode aproveitar mais a família, mas conta que não é aquela avó que deseduca. “Eu também educo, chamo atenção, porque não gosto das coisas erradas. Faço como fazia com meus filhos, não passo a mão na cabeça. E, se precisar, chamo até hoje atenção dos meus filhos, porque acredito que temos que passar sempre os ensinamentos a eles. Pra mim eles nunca crescem”, relata.
Ela acredita que é preciso educar para ter responsabilidade, para ser uma família unida, de pessoas honestas. “E cada um tem que procurar ser honesto com si mesmo. Temos que gostar e dar valor a nós mesmos, saber da capacidade que temos. Temos que dar a volta por cima e mostrar para os outros o que nós somos.”
Personalidade, espontaneidade
e alegria marcantes
“Oi gatinha”, “oi minha linda”, “oi gatão”... são alguns dos elogios dados pela dona Maria e que deixa mais feliz o dia de muitas pessoas, que se divertem com a espontaneidade e alegria dela, que às vezes chega a chorar de felicidade com o carinho que recebe de muitas pessoas e a felicidade que as crianças ficam ao vê-la. “Sou muito grata a isso. Pena que é tudo mais rápido ali no sinaleiro, não dá tempo direito de conversar com as pessoas. Gostaria de dar mais atenção, porque todo mundo merece.”
O sentimento de gratidão faz parte da vida dela. Quem vê o sorriso para todas as pessoas no sinaleiro, durante todo o dia, não imagina como é a vida dela - e não é uma vida fácil. Mesmo assim, não só ela transmite alegria, como também, de coração aberto, dá os elogios mais sinceros. Elogios que muitos têm dificuldade em dar até mesmo para os familiares, mas que faz a diferença na vida de cada um que passa por ali e arranca sorrisos, algo contagiante.
Ela diz que os outros não têm culpa dos problemas dela e que ela tem que transmitir alegria mesmo, que é algo mais forte, vindo de Deus. Com dores nas articulações de todo o corpo e problemas de saúde do marido, de quem ela cuida com muito carinho, precisa trabalhar para poder sustentar os dois, já que ele não consegue mais trabalhar.
“Deus me dá força e fé. Nunca podemos desistir de nada. Antes de sair de casa, piso primeiro com o pé direito e oro pra Deus. Não só pra mim, mas oro pelos outros também, porque temos que pedir por todo mundo”, comenta. Inclusive ela diz pedir calma e paciência às pessoas, porque muitos são estúpidos e agem com ignorância ao se depararem com ela no trânsito.
Mulheres estão conquistando a cada dia mais espaço no mercado de trabalho, mas o fato de ser negra também é algo que dona Maria sente sofrer preconceito. “Tem gente que não gosta nem que chegue perto. Às vezes nem olham. Fico chateada, mas aquela dorzinha logo passa porque vem outro e dá um sorriso. As crianças me adoram, me chamam até de gatinha”, detalha.
Para ela, o que fica é o bem que se faz aos outros. Afirma que as mulheres têm que ter fé em Deus, serem fortes, tratar bem as pessoas.
Nem só de trabalho
vive Dona Maria
Com a entrega de panfletos, consegue dinheiro para comprar o básico de comida para ela e o marido e pagar despesas pequenas da casa. Diz que quando sobra um pouco aproveita para fazer o que tanto gosta: seus pudins. Ela se diverte ao contar que inventa pudim de tudo - de milho verde, arroz, de batata, de pinhão. “Até hoje deu tudo certo. Não tenho muito estudo, só até o quarto ano, mas sou muito criativa. Mexo uma coisinha aqui, outra ali e nunca errei”, conta.
Diz ser apaixonada por plantas e que até de madrugada às vezes fica lá no seu cantinho cuidando, conversando com as plantas e passa pano nas folhas para ficar brilhando. Comenta que fica feliz com cada muda que ela ganha. Adora todas as espécies e tem bastante samambaia e orquídea. Também tem uma horta que adora cuidar.
Superação diária
Viúva do pai de seus filhos, casou-se há seis anos com Julio Henrique Lopes, um uruguaio que vive há 30 anos em Campo Largo.
Como as filhas já moravam e tinham família aqui, ela acabou conhecendo o seu atual marido, conversavam por telefone até que resolveu morar em Campo Largo. Ela trabalhava como doméstica em uma casa há 16 anos e já buscava algo diferente.
Atualmente Julio não consegue mais trabalhar, apenas faz alguns trabalhos esporádicos como pedreiro, porque não pode fazer muito esforço. Devido a uma úlcera chegou a ficar internado por 45 dias em uma UTI e desde então precisa de cuidados da dona Maria. Já passou por algumas cirurgias e ainda precisa fazer mais para ficar bom. “Ele chegou a ser desacreditado pelos médicos, que disseram que não ia aguentar. Mas tenho muita fé e cuidei muito dele que o médico nem acreditava na recuperação. Fico preocupada com ele, mas enquanto Deus me dá vida e saúde eu estou trabalhando para nos manter”, diz.
Ela precisa cuidar com muita dedicação dele e tenta superar as fortes dores que sente. “Tenho artrose em todo o corpo. Olha os meus dedos já todos virados. Meus sapatos têm que ser número maior senão sinto muita dor no pé”, conta Maria. Depois do trabalho, ainda chega em casa para cuidar do marido e da limpeza e fazer o jantar, para no outro dia já iniciar tudo de novo, logo cedo e com sorriso no rosto.