De acordo com o último Censo, realizado em 2010, cerca de 15% da população brasileira é diagnosticada com Hipotireoidismo ou Hipertireoidismo, onde a grande maioria dessas pessoas são do sexo feminino. O mesmo Censo projetou que existe a possibilidade de pelo menos cinco milhões de mulheres possuírem a doença e não receberem tratamento por não conhecerem os sintomas.
Porém, antes de saber o que são essas doenças e como elas se manifestam, é preciso entender o que é a tireoide, quais hormônios produz e como atua no corpo humano. Segundo o médico endocrinologista André Ricardo Fuck, a tireoide é uma glândula localizada na região anterior do pescoço que tem a função de produzir os hormônios T3 e T4, liberando-os na corrente sanguínea. Estes hormônios atuarão em todas as células do organismo, ativando o metabolismo das mesmas.
“Tanto o hipo como o hipertireoidismo são doenças que levam a uma disfunção da glândula - alteração na produção hormonal. O Hipotireoidismo está relacionado a uma baixa produção dos hormônios, levando a um estado de diminuição do metabolismo. Já o Hipertireoidismo é justamente o contrário, pois se relaciona a um estímulo desenfreado da glândula com consequente aumento da produção de hormônios e ocasiona um estado de hipermetabolismo”, explica o Dr. André.
Apesar da doença apresentar uma grande incidência na população brasileira, pouco se fala dela e seus sintomas passam despercebidos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, cerca de 10% das mulheres com idade superior a 40 anos podem desenvolver a doença, o índice sobe para 20% se ela tem mais de 60 anos.
Sintomas
Entre os sintomas do Hipotireoidismo estão falta de energia, ganho de peso - discreto e mais relacionado à retenção hídrica -, baixa no apetite, queda de cabelos, intolerância ao frio, cansaço, fadiga, sonolência, diminuição da capacidade de memória, constipação (intestino preso), aumento do colesterol, aumento de dores e até quadros de depressão. “No caso do hipertireoidismo, teremos sintomas relacionados ao excesso de hormônios circulantes (metabolismo acelerado), como taquicardia, perda de peso, calor excessivo, insônia, ritmo intestinal acelerado, agitação, irritablidade, alterações menstruais, intolerância ao calor, entre outros”, diz o médico. Ainda segundo ele, em ambos os casos pode haver um crescimento da glândula (chamada de Bócio), aumentando a região anterior do pescoço.
Tratamentos
O tratamento é, geralmente, por toda a vida e não restringe alimentos ou hábitos. “No Hipotireoidismo, o tratamento é com a reposição de hormônio. Lembrando que o hormônio correto é a Levotiroxina (T4 sintético), que é igual ao produzido pelo corpo. Não deve-se usar iodo, lugol, T3 ou outros derivados, apesar de muito recomendado por médicos não especialistas atualmente. Já no hipertireoidismo temos que definir o porque a glândula está produzindo em excesso e propor o tratamento adequado que geralmente é feito também com medicação com o objetivo de freiar a produção hormonal excessiva. Em alguns casos pode estar indicado o uso de iodo em doses altas ou cirurgia, caso o tratamento medicamentoso falhe ou por opção do médico e paciente”, explica o médico.
É importante ressaltar que o tratamento deve ser acompanhado por um médico endocrinologista, com consultas frequentes no início e que podem se estender a cada seis meses a um ano. Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, uma a cada cinco mulheres que procuram o ginecologista para reposição do hormônio estrogênio estão na verdade com problemas tireoidianos.
“Casos não controlados ou tratados de maneira inadequada podem levar a situações graves, principalmente no Hipertireoidismo. A produção hormonal muito elevada pode levar a uma situação extrema, chamada de crise tireotóxica, com alto risco de vida e necessidade de internação hospitalar em UTI. O Hipotireoidismo não tratado, em casos severos, pode levar a quadros de coma. Em casos menos graves, mas não tratados ou inadequadamente tratados, podemos ter problemas crônicos como alterações ósseas, depressão e ansiedade, psicose, alterações de peso, doenças cardíacas, glaucoma, alterações de crescimento e desenvolvimento em crianças, infertilidade, aborto, além de inúmeros outros problemas.